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As Causas da Obesidade na Visão da Psicanálise.

Em 30/09/2025 por CONBRAPSI Conselho Brasileiro de Psicanálise e Psicoterapias


As Causas da Obesidade na Visão da Psicanálise.

Introdução

A obesidade é um fenômeno multifatorial que ultrapassa as fronteiras do biológico e do nutricional, tocando aspectos emocionais, sociais e psíquicos profundos. A psicanálise, como teoria do sujeito e do inconsciente, propõe uma escuta diferenciada desse sintoma, buscando compreender a função que o excesso de peso pode exercer na vida psíquica do indivíduo. Este artigo tem como objetivo discutir as possíveis causas da obesidade à luz da psicanálise, principalmente sob as perspectivas freudiana e lacaniana

1. O corpo na psicanálise

Para a psicanálise, o corpo não é apenas uma estrutura biológica, mas um corpo investido de pulsões, marcado pelo desejo e pela linguagem. Freud já apontava para a importância do corpo pulsional na constituição do sujeito, e Lacan mais tarde desenvolveria o conceito de “corpo falado” – um corpo que responde às inscrições simbólicas do Outro.

Assim, a obesidade pode ser compreendida não apenas como um distúrbio alimentar, mas como uma formação do inconsciente que diz algo do sujeito, uma tentativa de tratar um mal-estar psíquico por meio do corpo.

2. A função do comer na constituição psíquica.

O ato de comer está entre as primeiras experiências de satisfação do bebê. A alimentação é, inicialmente, inseparável do vínculo com o cuidador – geralmente a mãe – e tem valor simbólico. Freud, em seus estudos sobre as pulsões, aponta que o seio materno é o primeiro objeto de satisfação, e a oralidade é a primeira zona erógena.

Nesse sentido, distúrbios alimentares como a obesidade podem estar ligados a fixações ou regressões à fase oral, em que o sujeito busca na comida uma forma de preenchimento simbólico de uma falta – geralmente uma falta de amor, reconhecimento ou presença do Outro.

3. Obesidade como sintoma psíquico.

Na visão psicanalítica, o sintoma é uma forma de gozo do sujeito – uma forma de lidar com o desejo, a castração e a falta. A obesidade pode, então, ser interpretada como um sintoma que protege o sujeito de algo angustiante.

Algumas possibilidades que a clínica aponta:

Repressão do desejo sexual: Em alguns casos, o excesso de peso funciona como uma defesa contra o desejo do Outro, criando uma “barreira corporal” que protege o sujeito da angústia ligada à sedução ou ao encontro amoroso.

Tentativa de preenchimento da falta:

O sujeito obeso pode tentar, inconscientemente, preencher um vazio interno – que não é da ordem do estômago, mas da ordem do desejo – por meio da ingestão compulsiva de alimentos.

Marcação do trauma:  O corpo obeso pode carregar marcas de um trauma psíquico não simbolizado, funcionando como uma espécie de “memória encarnada” do sofrimento.

4. A relação com o Outro e o lugar do olhar.

Na teoria lacaniana, o olhar do Outro tem um papel central na constituição do sujeito. A obesidade pode ser uma resposta ao modo como o sujeito se sente olhado – ou não olhado – por esse Outro. Em alguns casos, o corpo obeso se torna uma tentativa de existir para o Outro; em outros, de se esconder dele.

Além disso, o sujeito pode “tomar o lugar do objeto a” (objeto causa do desejo do Outro) por meio do corpo, buscando ser amado ou desejado através da comida, da presença maciça, ou mesmo da recusa de seguir os ideais de beleza impostos socialmente.

5. Tratamento e escuta psicanalítica.

A psicanálise não propõe uma cura rápida ou uma fórmula para emagrecimento. O tratamento analítico visa escutar o sujeito e ajudá-lo a reconhecer o sentido inconsciente do seu sintoma. É no percurso da análise que o sujeito pode começar a se separar do gozo que sustenta o sintoma e encontrar outras formas de lidar com sua falta, com seu desejo e com o Outro.

Conclusão.

A obesidade, na perspectiva psicanalítica, é muito mais que uma questão de dieta ou metabolismo. É um fenômeno subjetivo que fala de dor, de desejo e de tentativas de lidar com o insuportável da existência. A escuta clínica do sujeito obeso revela, muitas vezes, histórias de desamparo, traumas e conflitos profundos com o corpo e com o desejo. Ao considerar essas dimensões, a psicanálise contribui com uma abordagem ética e singular, que respeita o sujeito em sua complexidade.

Referências (sugestivas).

FREUD, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.  Obras Completas, Vol. VII.

LACAN, Jacques. O seminário, Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise.

MILLER, Jacques-Alain. Introdução à clínica lacaniana dos sintomas.

NASIO, Juan-David. O corpo e o inconsciente.

Prof. Doutor José Gomes da Silva Neto, possui triplo Bacharelado, Especialista, Mestre e Doutor.  Psicanalista por 3 Escolas de formação. Atua na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo. #gomesterapias


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